sábado, 12 de dezembro de 2009

Muinheira



Esplendorosas estrelas, sois vós
E apenas vós, que desejo cantar
Plêiades, filhas de Atlas, mostrai
Vossos formosos semblantes a mim


Deixai cair vosso véu de mistério
Enquanto envolvem meus sonhos de noites,
Enchem meus olhos de cores e luzes
Iluminados por alvo luar


Seria Baco, se a graça tivesse
De ser por vós abraçado e cuidado
Mas não é possível, criatura terrestre
Causar encanto nos seres celestes


No firmamento distante a fulgir
Jóias eternas, sem fim no porvir
Causam suspiros em reles mortais
De quem o fim não é previsto demais

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Com outros escritos dando uma trégua, sobra-me um pouco de tempo para retomar a métrica e a prosódia. Aqui, quatro quartas em versos (quase) brancos. Não me preocupei com as rimas desta vez, elas quase que vieram por conta própria - e por isso estão escassas. Pelo contrário, procurei me focar completamente no ritmo, experimentando essa variedade do decassílabo conhecido como "moinheira" (ou "muinheira") ou "gaita galega". O ritmo me foi de tal maneira contagiante que depois de alguns versos ele se impunha sozinho em meu pensamento. Ainda que algumas linhas tenham quebrado um pouco o ritmo por causa de uma tonicidade muito precoce (como em "Plêiades, filhas de Atlas...").
Para não perder o costume, aqui vai a escansão de um dos versos:

Mas | não_é | pos | | vel, | cri_a | tu | ra | ter | res ( tre )
   1          2       3     4   5         6      7     8    9       10

O negrito marca as tônicas principais, na quarta, sétima e (obviamente) décima sílaba. Nesse verso em particular,  temos uma sinalefa na segunda sílaba (na leitura, ficaria algo como "né"); e uma sinérese na sexta sílaba.