quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Alexandrinos II - Primeira parte

I – A Punição

“Cortem as asas dele!” – ordenou o carrasco.
“As asas com as quais uma vez cruzou céus –
Ah! Não mais, nunca mais!” – falou tomado de asco
Que escorria da pele e enchia o ar de fel
“E joguem-no por fim, sem asas, do penhasco!”

“Não deixem pena alguma em tão pífio réu.
Talhem todas as seis! Seis é sua medida,
Seis é seu julgamento e seis o seu laurel!
Que levará consigo até o fim da vida
E será para sempre o seu algoz cruel.”

Das seis asas privado, o sangue da ferida
Sobre seu corpo nu vertia fogo ardente.
Arrastado ele foi para sua caída
Posto à beira do abismo a contemplar ciente
A sina reservada a si e assim temida

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Bem, um novo impulso tomou conta de mim, e resolvi retomar os alexandrinos. Pensei em trabalhar com versos heróicos, mas precisava de maior espaço para dar conta do meu palavrório - e muito mais que doze sílabas, só barbarizando o poema ou retomando novamente a métrica clássica, nenhuma opção que gostaria de recorrer. Por fim, para não me manter em nenhuma forma tradicional de arranjo de estrofes e versos, resolvi que escreveria cerca de 100 versos, divididos em vinte stanzas, e estas agrupadas, por fim, em torno de seu tema central. Veremos o que poderá nascer daí.
Como o trabalho se mostra dispendioso, preferi ir publicando-o em partes, para não manter o blog entregue às traças. Aí em cima, três primeiras estrofes que comporão a primeira parte.

Para não perder o costume, e para exercitar a língua, coloco aqui a escansão do primeiro verso:
"COR - tem as A-sas DE(le!") || - _or-de-NOU o ca-RRAS(co)
Lembrando: o verso Alexandrino clássico é composto por dois hemísticos de seis pés cada. Sendo rigoroso, a cesura que separa o primeiro hemístico deve ser tônica, ou seja, terminar com a tônica na sexta sílaba, sem nenhum "excesso" silábico - uma oxítona, de preferência. Aqui, aparentemente, esta regra é ferida, mas deve-se prestar atenção: o restante, posto entre parêntesis, sofre elisão pela sílaba inicial do hemístico seguinte.

3 comentários:

Anton disse...

nossa, me vejo incapaz de criar tantos versos seguindo pequena parte das regras, queria ter tamanho conhecimento das palavras. porém cairia no mesmo problema quanto ao "ceu", mas achei muito bom o uso do fel para a irá do personagem.

Anônimo disse...

Muito bom meu nobre!
Uso muito bom da métrica e
jargão arcaico. Fez-me sentir saudades das minhas poesias de
segunda era do Romantismo.
Claro, muito mais livre no sentido
de uso das palavras e nada que
se compare ao uso da métrica
no seu caso.
Parabéns meu caro, abração!

Anônimo disse...

Erikson....
Lendo seu blog, fiquei sem palavras, parabéns. Vi a poesia com outros olhos.
Em abraço