I – A Punição
“Cortem as asas dele!” – ordenou o carrasco.
“As asas com as quais uma vez cruzou céus –
Ah! Não mais, nunca mais!” – falou tomado de asco
Que escorria da pele e enchia o ar de fel
“E joguem-no por fim, sem asas, do penhasco!”
“Não deixem pena alguma em tão pífio réu.
Talhem todas as seis! Seis é sua medida,
Seis é seu julgamento e seis o seu laurel!
Que levará consigo até o fim da vida
E será para sempre o seu algoz cruel.”
Das seis asas privado, o sangue da ferida
Sobre seu corpo nu vertia fogo ardente.
Arrastado ele foi para sua caída
Posto à beira do abismo a contemplar ciente
A sina reservada a si e assim temida
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Bem, um novo impulso tomou conta de mim, e resolvi retomar os alexandrinos. Pensei em trabalhar com versos heróicos, mas precisava de maior espaço para dar conta do meu palavrório - e muito mais que doze sílabas, só barbarizando o poema ou retomando novamente a métrica clássica, nenhuma opção que gostaria de recorrer. Por fim, para não me manter em nenhuma forma tradicional de arranjo de estrofes e versos, resolvi que escreveria cerca de 100 versos, divididos em vinte stanzas, e estas agrupadas, por fim, em torno de seu tema central. Veremos o que poderá nascer daí.
Como o trabalho se mostra dispendioso, preferi ir publicando-o em partes, para não manter o blog entregue às traças. Aí em cima, três primeiras estrofes que comporão a primeira parte.
Para não perder o costume, e para exercitar a língua, coloco aqui a escansão do primeiro verso:
"COR - tem as A-sas DE(le!") || - _or-de-NOU o ca-RRAS(co)
Lembrando: o verso Alexandrino clássico é composto por dois hemísticos de seis pés cada. Sendo rigoroso, a cesura que separa o primeiro hemístico deve ser tônica, ou seja, terminar com a tônica na sexta sílaba, sem nenhum "excesso" silábico - uma oxítona, de preferência. Aqui, aparentemente, esta regra é ferida, mas deve-se prestar atenção: o restante, posto entre parêntesis, sofre elisão pela sílaba inicial do hemístico seguinte.
3 comentários:
nossa, me vejo incapaz de criar tantos versos seguindo pequena parte das regras, queria ter tamanho conhecimento das palavras. porém cairia no mesmo problema quanto ao "ceu", mas achei muito bom o uso do fel para a irá do personagem.
Muito bom meu nobre!
Uso muito bom da métrica e
jargão arcaico. Fez-me sentir saudades das minhas poesias de
segunda era do Romantismo.
Claro, muito mais livre no sentido
de uso das palavras e nada que
se compare ao uso da métrica
no seu caso.
Parabéns meu caro, abração!
Erikson....
Lendo seu blog, fiquei sem palavras, parabéns. Vi a poesia com outros olhos.
Em abraço
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