sábado, 8 de novembro de 2008

Palavras quietas


De tantos versos fiz-me haver assim
E sem saber de que lugar provêm
Que disse a mim poder ouví-los bem
Ainda que ninguém ouvisse enfim

Palavra bela, feia e outra afim
Seus sons soavam sem supôr porém
Estarem sendo ditas por alguém
E mesmo assim falavam alto em mim

Mas ora, nada disso importa então
Se os versos toam para ouvido atroz
A minha fala mostra ser em vão

Contudo faço austera minha voz
Retomo o verbo certo e meu quinhão
E brado meu poema em tom feroz

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Terminei o soneto, depois de alguns dias trabalhando nele. Os dois tercetos saíram devagar, exigindo atenção especial. Alterei apenas um verso da segunda estrofe para melhorar a sonoridade do soneto. No fim, consegui compô-lo integralmente em pentâmetros iâmbicos.

2 comentários:

Anton disse...

aí está uma obra que minha pessoa não chega perto de completar, se haveria um começo.
Neste labirinto de regras, você, primo-san, se faz não o fugitivo e sim o minotauro, que conhece, compreende e por fim sabe usa-lo a favor. Parabéns, gosto de seus trabalhos.
Imagino eu que grande obra iria compor se repensasse por meses um mesmo soneto.
Sendo o linguajar rude ou sencivel, tende-se a almeja-lo como uma nescessidade, porque assim é, então é algo a nunca desvascer dos labios humanos, ou não, e por menos avaliado que for, ainda sim é a obra e representação de cada um de nós, somos o que falamos conjunto do que pensamos, e sempre haverá alguem a amar nossas palavras.

Erikson disse...

Caro primo!
Agradeço as palavras ternas com relação ao meu exercício da linguagem.
Agora, interessante pensar a questão das ditas "regras". Na verdade, fica fácil reduzir a prosódia a isso: uma série de regras que devem ser seguidas. Mas, pelo contrário, é o rigor que elas impõe que permitem ao poema ter aquilo que lhe é mais específico: sua sonoridade. Não escrevo sonetos para serem lidos, mas para serem falados. Pois é na concretude de seu som que eles ganham sua significação, e não do pretenso sentido de suas palavras. E, para isso, nada melhor que recorrer à prosódia, que já estabeleceu seu caráter há séculos, senão milênios.
Estou pensando em escrever um pequeno ensaio para colocar no Blog dizendo respeito a isto.
Obrigado pelo comentário!