terça-feira, 4 de novembro de 2008

Propedêutica prosódica prolixa - OU Dístico Elegíaco I


"É com a língua que falo, mas não a utilizo e sim, sofro-a
Tal qual doente febril que arde sentindo-se só"

Sem P.S. - tal dístico merece explicação. Eis que brincando com os sons das palavras, deparo-me com a métrica clássica, grega e latina, e a maneira como é utilizada na poesia inglesa em profusão. Fiquei ainda mais surpreso em perceber que a métrica de nossa querida língua, ainda que esta tenha se originado do latim vulgar, perdeu do latim a prosódia, e desenvolveu, numa história que ainda preciso desvendar, um esquema rítmico próprio, diferenciado.
Intrigado com a complexidade dos diversos pés e metros da prosódia clássica, pensei em elaborar a partir dela algum poema. Minha dificuldade foi tamanha, que resolvi reduzir meu esforço a um pequeno dístico elegíaco - um par de versos, sendo o primeiro um hexâmetro dactílico, e o segundo um hexâmetro dactílico com dupla catalexia - ou seja, com dois pés incompletos - e dotado de uma cesura.

Como o amontoado de palavras pode não ter feito muito sentido, façamos a escansão do dístico para revelar sua estrutura.

Somente uma nota anterior: é impossível nos desvencilharmos do registro do sentido, mas, para a análise do poema, concentremo-nos em seu aspecto sonoro, que é o que nos interessa aqui, enfim.
Colocarei em maiúsculo e negrito as sílabas tônica para melhor marcar os pés dos versos.

É com a | LÍNgua que | FAlo, mas | NÃO a uti | LIzo e sim, | SOfro-a
TAL qual do | ENte fe | BRIL || QUE ARde sen | TINdo-se|

Cada barra ("|") separa um pé do seguinte. Os pés são dactílicos porque se organizam no seguinte esquema: "Sílaba Tônica - Sílaba átona - sílaba átona", que é, justamente, o pé dátilo. Como são seis pés, ambos os versos são hexâmetros. Entretanto, o primeiro verso tem seu último pé cortado, ou seja, cataléxico, na medida em que seu esquema é apenas "Sílaba tônica - Sílaba átona" (lembremo-nos que o "o" é elidido pelo "a" que o segue neste pé).

O segundo verso começa com dois dátilos, mas é interrompido por uma sílaba tônica, que forma um pé próprio. Seguido deste pé manco, temos a cesura ("||"), que marca uma pausa no verso, um rompimento na cadeia rítmica. Por fim, mais dois pés dactílicos, finalizados por outra sílaba tônica, denotando outro pé cataléxico e fechando o poema.

Por possuir apenas quatro pés dactílicos e duas sílabas tônica, o segundo verso costuma ser classificado não como hexâmetro, mas sim como pentâmetro (as duas sílabas longas marcariam um quinto pé).

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